Religioso
A vila de Alcochete é detentora de um património arquitetónico religioso que atesta bem a sua importância, desde a Idade Média.
O templo mais antigo é a igreja de S. João Baptista, construído durante a acumulação dos mestrados das Ordens de Cristo e Santiago na figura do Infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V e pai do futuro D. Manuel I, no final do 3.º quartel do séc. XV.
A segunda metade do séc. XVI, época em que a realeza foi presença constante na vila de Alcochete (desde D. João I a D. Manuel I), corresponde ao período de maior produção construtiva religiosa.Se até aqui as construções tinham seguido modelos ensaiados noutros locais do reino, o séc. XVI conferiu às construções religiosas da vila um carácter original e único em todo o país. Integradas no ciclo artístico tardo-renascentista, a construção da igreja da Misericórdia (1563) e da capela de Nossa Senhora da Vida (1577) constituem a face mais visível desse momento.
![]() |
![]() |
A Igreja de São João Baptista, Matriz de Alcochete foi declarada Monumento Nacional por decreto de 16 de junho de 1910.
O Monumento mais importante do Concelho está situada no Largo de São João em pleno centro da vila de Alcochete.
A fachada principal de empena triangular é marcada pelo volume prismático da torre sineira e pelo portal, com três arquivoltas, inserido num gablete e encimado por uma enorme rosácea.
Uma construção quatrocentista, claramente associada ao Infante D. Fernando (1433-70), pai de D. Manuel I e Mestre das ordens de Santiago, Avis e Cristo, como se pode comprovar pela presença das cruzes das ordens de Santiago e Cristo inserida e a rematar o gablete do portal principal, respetivamente.
Contudo o imóvel sofreu algumas alterações ao longo do tempo. A construção das antigas capelas de Pêro Lourenço e de Maria Lopes, dos Mascarenhas são exemplo disso e em que já foi adotado o estilo manuelino. O altar-mor sofreu obras de fundo em 1678. As intervenções de conservação e restauro efetuadas pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, na década de 40 do séc. XX, provocaram alterações significativas no monumento.
A Igreja da Misericórdia, classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº2/96 de 6 de março de 1996, apresenta um porte imponente com uma localização importante no contexto urbano, sendo ponto de confluência de duas linhas fundamentais à estruturação original do espaço urbano da vila – a linha da margem do Tejo e a linha para o interior (Rua Direita) que conduz à Igreja Matriz.
Construída na segunda metade do séc. XVI, C. 1563, conforme inscrição na porta lateral sul, assume uma arquitetura simples enquadrável na corrente maneirista vigente na época. De todo o conjunto destacam-se dois volumes: o da nave, de corpo único com sobrelevação do altar, e um outro que antecede a nave, composto pelo narthex e pelo coro.
Segundo a tradição oral, esta igreja teria feito parte do antigo palácio dos Infantes de Beja, onde teria nascido D. Manuel I (1469). A inexistência de provas documentais ou arqueológicas não nos permitem confirmar essa suposição, no entanto, nas imediações da igreja existem alguns elementos construtivos que indiciam a existência de uma importante construção, da qual, provavelmente a igreja faria parte.
A Igreja da Misericórdia foi recuperada e adaptada para albergar o Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal de Alcochete, que aqui se encontra desde 1993. Reúne um espólio essencialmente composto por pintura abrangendo todo o período compreendido entre os séculos XVI e XX, sendo de destacar o retábulo maneirista da autoria de Diogo Teixeira e António da Costa e a Bandeira da Misericórdia atribuída a Francisco Campos.
![]() |
![]() |
A Igreja de Nossa Senhora da Vida, classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 2/96, de 6 de março de 1996, encontra-se adossada a edifícios nos lados sul e nascente.
Foi no tempo de D. Manuel I que a velha albergaria da vila deu lugar ao hospital do Espírito Santo, um edifício descrito na Visitação de 1512, com uma área coberta de 90 m2 e um quintal de 116 m2 . Constituído por 3 divisões: uma casa grande forrada a madeira onde havia duas camas para pobres; uma capela ladrilhada e bem forrada, sem retábulo nem imagem, e a casa onde morava o hospitaleiro. Foi este o edifício que, anos mais tarde, respeitando os espaços do hospital, se converteu na igreja de Nossa Senhora da Vida.
Edificada na 2ª metade do séc. XVI por Afonso Figueira e sua mulher, Júlia Carvalho, onde se fizeram sepultar em campa rasa frente ao altar-mor. Em 1577 o Doutor Afonso Figueira legou à Misericórdia de Alcochete a capela, que ele e a sua mulher edificaram em honra do Espírito Santo. Foi ainda concedida a propriedade de alguns bens que o casal possuía no termo de Alcochete, para que com o seu rendimento fossem cumpridas as obrigações piedosas dispostas. Com o remanescente deveria a Misericórdia adquirir colchões e esteiras para o hospital mantido inicialmente pela albergaria da vila e, posteriormente, pela Misericórdia, o qual se localizava num anexo da capela.
Passados mais de quatrocentos anos sobre a sua edificação, a capela do Espírito Santo, que mais tarde passaria a chamar-se Igreja de Nossa Senhora da Vida, mantém-se sem alterações na sua estrutura exterior. Contudo, no interior, foram muitas e em diferentes períodos as alterações efetuadas.
Em 1758 as paredes da nave foram revestidas por silhar de azulejos, com representação de cenas da vida da Virgem, adquiridos a um azulejador de Lisboa.
Em data imprecisa, mas posterior à construção do templo, foi acrescentado um altar em cada um dos lados do arco de acesso à capela-mor. A desproporção dos mesmos face ao conjunto sugere que ambos terão sido trazidos doutro espaço para este edifício.
No ano de 1986, no decurso de uma campanha de obras realizada pela Misericórdia de Alcochete, a Igreja foi profundamente alterada no seu interior. A cobertura da nave foi reconstruída e o antigo teto de madeira decorado com pintura do séc. XVIII, representando o orago, deu lugar à abóbada de alvenaria; o púlpito foi retirado, subsistindo a marca deixada nos azulejos.
![]() |
Situada na vila de Samouco, proposto pelo Plano Diretor Municipal (PDM) como Monumento de Interesse Histórico e Artístico de âmbito Local – Diário da República de 22 de agosto de 1997.
Enquadrada em ambiente urbano, isolada e em destaque na principal praça da localidade, a Praça da República.
De construção barroca, a Igreja de São Brás apresenta, à entrada do templo, uma inscrição no pavimento que indica a data da sua reconstrução: 1696, havendo notícias de uma anterior igreja neste local, cuja origem parece remontar ao séc. XVI. Apesar das dimensões modestas, esta igreja constitui um dos exemplos mais bem conservados da tipologia específica de templos que a Ordem de Santiago patrocinou no seu território, durante a rica primeira metade do séc. XVIII.
A Igreja conta com uma fachada principal de dois andares, com torre sineira adossada a um dos lados, paredes interiores cobertas por azulejos azuis e brancos das oficinas de Lisboa, teto da nave de caixotões com ampla pintura central e retábulo-mor de talha dourada, de estilo nacional. Estas são também características de outros templos da região construídos pela Ordem. Parcialmente afetada pelo terramoto de 1755, a igreja de São Brás foi objeto de uma campanha consolidadora já de carácter neoclássico, mas que não terá passado de arranjos pontuais nas partes altas, como nos registos superiores da fachada principal.
![]() |
O Pórtico do Convento de S. Francisco ou de Nossa Senhora do Socorro classificado como Imóvel de Interesse Municipal pelo decreto nº2/96 de 6 de março de 1996 é o que resta de um convento do séc. XVI.
Em 1571 os frades descalços da província dos Algarves da Ordem de S. Francisco solicitaram, a D. Sebastião, a doação da ermida de Nossa Senhora da Sabonha para aí construírem um convento.
Face ao abandono em que se encontrava a antiga matriz de Alcochete e Aldeia Galega a doação foi concedida. E a construção do convento iniciou-se em 1572, tendo-lhe sido dado o título de Nossa Senhora do Socorro.
O séc. XVII e o início do séc. XVIII corresponderam ao período de maior prosperidade do convento, altura em que as instalações foram ampliadas e em que maior número de frades teve.
Em 1834 o convento de S. Francisco ou de Nossa Senhora do Socorro foi extinto e em 1838 é vendido em hasta pública e demolido, restando apenas o pórtico de acesso ao recinto do convento.
Pórtico de três vãos em arco assentes em pilares quadrangulares, encimado por três frontões, os laterais rematados por pináculos, o central por uma cruz. Ornamentado com um conjunto de dez painéis de azulejos setecentistas, provenientes das oficinas de Lisboa, representando do lado norte São Salvador da Horta, São Pascoal Bailão e Santo António e do lado sul São Boaventura, São Luís e São Francisco.
![]() |
Situada junto à Estrada Municipal 501, que liga Alcochete ao Samouco, a ermida foi construída na segunda metade do século XVI.
O templo apresenta uma arquitetura de tipologia maneirista, planta longitudinal composta por nártex de três arcadas, nave e capela-mor separada por um degrau. Construído no séc. XVI, sofreu alguns melhoramentos nos séc. XVII e XVIII, nomeadamente a construção do narthex defronte da entrada principal e a entrada lateral a sul. Da construção original, o destaque vai para a entrada principal, em arco de ogiva chanfrado e para um conjunto de azulejos hispano-árabes, entretanto descontextualizados da sua proveniência original.
A Ermida de Nossa Senhora da Conceição dos Matos constitui um caso muito interessante de um templo de devoção rural, com uma pequena romaria associada até ao início do séc. XX. Apesar das proporções modestas, são vários os motivos de interesse desta ermida. Aqui se conservam alguns exemplares de azulejos hispano-árabes, da primeira metade do séc. XVI, e daqui procedem as duas tábuas pintadas, atualmente conservadas na Igreja Matriz de Alcochete, atribuídas a um discípulo da oficina do Mestre da Lourinhã, e que representam a Anunciação e a Natividade.
Esta ermida teria sido dependência do palácio que a família do navegador Tristão da Cunha (neto do primeiro proprietário do palácio) possuía nas proximidades.
No pavimento da capela-mor existem sepulturas, sendo uma a de Tristão da Cunha e de sua mulher, conforme se lê: AQVI JAZ TRISTÃO DA CUNHA / E D. ANTONIA DA SILVA / SVA / MVLHER QVE POR DEVOÇÃO / ALI SE MANDOV ENTERRAR.
A Ermida de Santo António da Ussa, proposta pelo Plano Diretor Municipal (PDM) como monumento de Interesse Histórico e Artístico de âmbito local – Diário da República de 22 de Agosto de 1997.
Localizada em ambiente rural, isolada no meio de uma lagoa na Herdade da Barroca d’Alva, apresenta planta circular com cobertura em cúpula esférica, rodeada por muralhas de ameias quadrangulares que lhe conferem um aspeto fortificado.
O corpo da ermida é rasgado pelo pórtico, que apresenta vestígios de frontão semicircular. O interior do templo apresenta paredes cegas, e no lado oposto ao pórtico são visíveis os vestígios de um altar.
Um templo de modelo invulgar, com características renascentistas.