Centenário da República foi tema de colóquio na Biblioteca de Alcochete
O Centenário da República foi o tema em destaque no colóquio que se realizou na Biblioteca de Alcochete, no passado sábado e que teve como oradores, além do Presidente da Câmara, Luís Miguel Franco e do vereador Jorge Giro, o Dr. António Carlos Carvalho, o Dr. Pedro Martins e o Dr. Renato Epifânio.
Na abertura do colóquio o Presidente da Câmara recordou Platão, que com a sua república “concebia um regime totalmente comunitário, de total partilha dos filhos dos homens e das mulheres. Platão não acreditava no governo do mais votado porque este tipo de governo traria problemas de corrupção”, acrescentou Luís Miguel Franco.
Para o autarca o regime republicano está a aperfeiçoar-se com o decurso dos tempos: “Não podemos pensar que o regime republicano nasceu perfeito, muito pelo contrário. Mas sou republicano. Acredito na gestão da Res Publica, acredito no governo pelos mais dotados e portanto espero que à medida que nos formos aperfeiçoando também o povo, enquanto detentor do poder soberano, também se possa consciencializar mais acerca desse seu poder, e que no futuro vote de forma mais consciente, para que o futuro seja um pouco melhor para todos nós”.
O vereador Jorge Giro referiu na sua intervenção o extenso programa comemorativo do Centenário da República que integra diferentes iniciativas a realizar nas três freguesias do Concelho, que se prolongam até dia 8 de Janeiro de 2011, e que evocam os primeiros tempos da República até aos nossos dias.
Monárquico por convicção, António Carlos Carvalho dissertou sobre a importância da figura do Rei que é transversal às diferentes civilizações, independentemente do regime vigente ser uma monarquia ou uma república.
“O Rei faz parte do imaginário popular, é a figura de alguém que é especial, com carisma, que se distingue dos outros. Ao longo da nossa história a figura do rei teve como modelos principais a figura do rei David e a figura do rei Artur. Por exemplo D. Manuel procurou aproximar-se da figura do rei David, ou seja de alguém que iria refundar o país”, refere António Carlos Carvalho.
Na sua comunicação o autor da dissertação “A Monarquia e o Rei” referiu-se também a diferentes períodos da História de Portugal, à importância do poder municipal, fundamental na reestruturação do país, à crítica feroz de Rafael Bordalo Pinheiro, às crónicas de Raul Brandão, a Sampaio Bruno, ao reinado de D. Carlos e a João Franco, à revolta do Porto e à revolta do 5 de Outubro de 1910.
“A ideia de mudar o regime em 1910 na verdade fez com que muita coisa não mudasse, apenas mudou a designação e muita coisa ficou como estava, mas outras se fizeram que foram evidentemente importantes”, disse.
“Actualmente o que me preocupa é que este país tem de ser refundado, reinventado, feito de novo. É preciso começar de novo, mas começar bem com gente dedicada ao país, que o veja como um todo. É preciso olhar de novo para o oceano e partir em viagem, mas esta é uma viagem interior, dentro do nosso País. É preciso que nos conheçamos melhor”, concluiu António Carlos Carvalho.
“Teixeira de Pascoaes e a República” nortearam a comunicação de Pedro Martins na qual o enfoque foi dado à obra incandescente daquele que foi um dos líderes do chamado movimento da “Renascença Portuguesa” e principal representante do Saudosismo.
Mas um saudosismo que não é voltado para o passado, mas para o conceito de alma pátria, de Portugal, da essência que nos define enquanto Povo e enquanto Nação. Em Teixeira de Pascoaes são identificados um conjunto de ideias e conceitos muito definidos, assumindo a saudade a centralidade de toda a sua obra literária.
“A implantação da República foi uma oportunidade para salvar Portugal, mas que resultou numa desilução e Teixeira de Pascoaes tenta reabilitar em D. Carlos a figura do rei ideal”, refere Pedro Martins.
Para Pedro Martins nós estamos a lidar muito mal com a nossa memória num ano todo ele voltado para a memória histórica e considera inexplicável que não se assinale o 50.º aniversário da morte de Jaime Cortesão, um dos maiores historiadores portugueses ou o segundo centenário da morte de Alexandre Herculano.
No final do colóquio Renato Epifânio apresentou o quinto número da revista Nova Águia subordinada ao tema “Os 100 anos d’Águia e a situação cultural de hoje” e o segundo volume dos Cadernos de Filosofia Extravagante intitulado “Singularidades”.
Com uma grande divulgação no espaço lusófono a revista “Nova Águia” desenvolve uma ideia de Portugal, de uma comunidade lusófona e do mundo, começando a ser publicada em 2006 no âmbito das comemorações do centenário de Agostinho da Silva. A revista continuou a ser publicada com o objectivo de recuperar um dos títulos mais míticos da nossa cultura que foi a revista “Águia”, na qual colaboraram Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Raúl Proença, Fernando Pessoa, entre outros.