Manifesto - 1.º Simpósio Português sobre Filosofia e Inteligência Artificial
No final do 1.º Simpósio Português sobre Filosofia e Inteligência Artificial, que decorreu nos passados dias 20 e 21 de outubro no Fórum Cultural de Alcochete, foi produzido um manifesto, Manifesto de Alcochete, que está em discussão pública até ao dia 21 de novembro de 2022. Todos os comentários poderão ser enviados para gaee@cm-alcochete.pt
Manifesto de Alcochete
Sobre o impacto da Inteligência Artificial nas Sociedades Humanas
1. O desenvolvimento da Inteligência Artificial e a sua aplicação a praticamente todos os aspetos da vida humana veio colocar problemas sociais e éticos novos, que implicam a colaboração em termos metodológicos de várias áreas do conhecimento, com especial relevância para a Filosofia e para as Ciências da Computação.
2. As tecnologias de Inteligência Artificial não são neutras. A Inteligência Artificial é uma área das Ciências da Computação cujo objetivo é a construção de sistemas capazes de executar tarefas que normalmente exigem a Inteligência Humana. As tecnologias de Inteligência Artificial implementam uma nova forma de racionalidade, podendo gerar decisões de forma autónoma que têm impacto nas sociedades contemporâneas e na nossa civilização. São, por conseguinte, e também, tecnologias transcendentes com a capacidade para alterar irreversivelmente os nossos modos de vida e o que significa ser humano.
3. Consequentemente, devem a Filosofia e as Ciências Sociais e Humanas, em colaboração com as Ciências da Computação, procurar compreender o impacto atual e futuro da Inteligência Artificial nas sociedades humanas. Nomeadamente, repensando as metodologias de colaboração científica, formulando novos significados para o que idealmente se deve esperar da implementação generalizada desta tecnologia e procedendo à sofisticação da Inteligência Artificial, no sentido de assegurar, tanto quanto possível, o sentido ético e humanista da sua aplicação.
4. A Inteligência Artificial na sua vertente conexionista inspira-se na estrutura e funcionamento do cérebro. Como tal, é necessário compreender os processos no cérebro e de que modo e em que circunstâncias podemos utilizar essa compreensão para transcender, de forma eticamente adequada, a própria Inteligência Humana. Nomeadamente, em termos de velocidade de processamento, representação e construção do conhecimento, produção de decisões e respetiva justificação.
5. No contexto dos pontos anteriores é também relevante a colaboração entre a Filosofia e as Ciências da Computação com o Direito e com as Ciências Políticas, no sentido de pensar a jurisprudência digital e fomentar os direitos humanos digitais.
6. Para concretização dos pontos anteriores é necessário proceder à constituição de uma comunidade multidisciplinar e aberta, congregando a atuação de especialistas em torno de reuniões científicas, programas de formação e projetos de investigação que se revelem de interesse científico e estratégico para o país.
7. Sendo o impacto social da Inteligência Artificial um tema de interesse público, afetando diretamente as pessoas, é necessário constituir mecanismos mediáticos capazes de assegurar a disseminação dos resultados gerados pela investigação científica sobre estes temas, quer ao público especializado, quer ao público em geral.