Bibliotecas públicas debatem redes sociais
Hoje está a decorrer o segundo dia do X Encontro de Leitura Pública da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS) no fórum cultural de Alcochete, que encerra com as intervenções de Silvestre Lacerda, diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, de Rui Garcia, presidente do Conselho Diretivo da AMRS e de Vasco Pinto, vereador da Cultura, Identidade Local e Turismo de Alcochete.
Na sessão de abertura do encontro, que decorreu ontem, dia 15 de novembro, participaram o presidente da câmara municipal de Alcochete, Fernando Pinto, o diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e o presidente do Conselho Diretivo da AMRS.
O presidente do município de Alcochete saudou a realização do X Encontro de Leitura Pública, promovido pela AMRS, mais concretamente pelo Grupo de Trabalho Intermunicipal de Bibliotecas da Região de Setúbal. “Estes dois dias de trabalhos serão seguramente mais um passo no longo caminho que se vem a percorrer desde os finais da década de 80, com a criação da Rede nacional de Bibliotecas Públicas”, disse.
Para o autarca, “as bibliotecas de outros tempos (…) estavam alheadas da comunidade e a comunidade delas”, mas “fruto de várias políticas culturais implementadas a nível central e local, mas também resultado do empenho, trabalho e visão dos bibliotecários, técnicos e colaboradores das bibliotecas públicas, foi possível transformar as bibliotecas em instrumentos de valorização dos indivíduos como cidadãos e promover a igualdade de acesso à educação e à informação, condição indispensável para a participação democrática de cada indivíduo no desenvolvimento da sociedade”.
Para Fernando Pinto, tem toda a pertinência refletir e discutir temas como as redes sociais e bibliotecas em rede, na medida em que “é necessário continuar a promover o trabalho em parceria entre as várias bibliotecas municipais, no sentido de se otimizarem os recursos e melhorar os serviços às populações”, um desafio que “deve ser também uma preocupação do poder local e dos autarcas”.
“Seja qual for o meio, o importante é conseguir chegar a um público cada vez mais alargado, independentemente da idade ou estrato social. A leitura pública deve contribuir para a literacia das populações, preparando-as para uma melhor compreensão do mundo e da sociedade onde se inserem”, acrescentou o edil, que citou Carlos Drummond de Andrade quando este diz que “a leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede”.
Sobre o papel das bibliotecas, o diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) referiu que as bibliotecas “estão centradas nas políticas públicas” por duas razões: “são integradoras” (estão abertas a todos sem distinção de raça, classe social ou outras condicionantes) e a biblioteca é “também uma casa de conhecimento, aspeto fundamental para a formação de cidadãos livres, de espírito crítico, com capacidade de discernimento a partir do próprio conhecimento”.
Silvestre Larcerda defendeu que, face às novas tecnologias, “o conhecimento nas bibliotecas exige trabalho, concentração e que a resposta imediata seja também uma resposta com alguma qualidade” e sublinhou que as bibliotecas “têm a missão essencial de serem polos de cooperação, de integração, que permitem desenvolver a ligação às diferentes comunidades e àqueles que têm mais dificuldade no acesso ao conhecimento”.
Este responsável referiu ainda que a DGLAB tem vindo a desenvolver “um conjunto de estratégias no âmbito de relançar a ideia central do trabalho em rede, mas sobretudo da partilha de serviços”, destacando que as bibliotecas “são espaços públicos em que o cidadão pode usar a internet de forma gratuita e mediada”.
Por seu turno, o presidente do conselho diretivo da AMRS destacou que este encontro “com uma regularidade bienal, significa mais de 20 anos de trabalho a construir o conceito de rede de bibliotecas públicas na região de Setúbal” e enalteceu ainda o elevado número de bibliotecas existentes na região. “É uma aposta que ao longo dos anos demonstrou amplamente o seu valor, uma aposta das bibliotecas não como locais de coleções de livros, mas de bibliotecas como polos de difusão cultural, fundamentalmente com essa perspetiva de que o livro tem um lugar central mas não é único, e muito mais acontece na biblioteca”.
Rui Garcia sublinhou “a ligação das bibliotecas à escola e ao ensino” que deverá ser reforçada no contexto da atribuição de novas competências às autarquias locais e manifestou preocupação quanto à desinformação nas redes sociais. Para o dirigente, cabe aos municípios e às bibliotecas “proporcionar os meios, os instrumentos para que as pessoas consigam interpretar as mensagens que lhes chegam e consigam transformá-las em conhecimento e que consigam resistir às tentativas de manipulação que hoje em dia são feitas”.
Na sessão de abertura do X Encontro foi também feita uma homenagem à Dra. Maria José Moura, que faleceu recentemente e que muito contribuiu para a implementação da rede de bibliotecas públicas em Portugal e em particular na região de Setúbal.