Futuro do trabalho esteve em debate em Alcochete
“O futuro do trabalho: que transformações?” foi o tema do debate realizado na passada quarta-feira, dia 6, no auditório da biblioteca de Alcochete, numa iniciativa do Centro de Emprego do Sul Tejo, em parceria com o município de Alcochete.
Esta iniciativa foi dirigida aos empresários do concelho e está inserida no Dia Europeu do Empregador e na Semana do Empregador, que está a decorrer de 5 a 9 de novembro em todo o país.
A sessão de abertura contou com as intervenções do presidente da câmara municipal de Alcochete, Fernando Pinto, e da diretora do Centro de Emprego do Sul Tejo, Maria do Carmo Guia.
Também participaram no debate Natividade Coelho, diretora do Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal (CDSSS), Paulo Matos, diretor da Unidade de Prestações e Contribuições do CDSSS, Manuel Meireles, delegado regional da Península de Setúbal da DRAPLVT, Francisco Carriço, vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, Patrícia Lourenço, diretora-adjunta do Centro de Emprego do Sul Tejo e Paulo Salazar Leite, da Primohorta.
No início da sua intervenção, o presidente da câmara municipal manifestou a disponibilidade do município para acolher as iniciativas do Centro de Emprego e para apoiar as empresas que se queiram instalar no concelho.
Fernando Pinto referiu que o executivo municipal aprovou a isenção da derrama para as empresas que se instalem em Alcochete e, no orçamento para 2019, “foi mais longe” com a aprovação de uma redução da derrama para 1% para as empresas com um volume de negócios abaixo dos 150 mil euros.
O autarca referiu a “boa localização geográfica do concelho” e as acessibilidades e destacou o investimento do município, no âmbito da Área Metropolitana de Lisboa, na criação do passe intermodal que permitirá “circular em toda a AML nos transportes públicos, com um passe único de 40 euros, em que as crianças até aos 12 anos não pagarão nada e em que um agregado familiar passará a pagar um passe máximo de 80 euros, independentemente do número de elementos do mesmo”.
Fernando Pinto saudou “o papel preponderante das empresas e empresários do concelho de Alcochete”, considerando que são “a força motriz da economia local que permite ao concelho ter uma taxa de desemprego ligeiramente inferior à taxa média nacional de 7%”.
Por seu turno, a diretora do Centro de Emprego do Sul Tejo sublinhou que o debate visa refletir e pensar em conjunto o futuro do trabalho. “Estamos num momento de transformações, em que é preciso qualificar e requalificar mão-de-obra e notamos muita falta de formação em muitos dos nossos ativos, quer empregados, quer desempregados, quer ao nível da formação em novas tecnologias, em trabalho de equipa, em saber estar, nas questões de adaptação aos postos de trabalho, na mecanização e na automação ao nível da indústria”, referiu Maria do Carmo Guia, que manifestou a sua prioridade em “ir ao encontro daquilo que as entidades empregadoras precisam”.
O Centro de Emprego do Sul Tejo abrange os concelhos de Alcochete, Montijo, Moita e Barreiro e articula formação com os centros de formação de gestão direta do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e com os centros de formação de gestão participada.
A criação da plataforma digital da Segurança Social “como o grande passo” para esta se tornar “mais amiga e parceira das entidades empregadoras” foi uma das questões abordadas pelo diretor da Unidade de Prestações e Contribuições do Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal. Para este responsável, a palavra-chave do relacionamento com as empresas é “a confiança”.
Paulo Matos referiu as funcionalidades atuais da plataforma, que a partir de novembro inclui também o novo regime dos trabalhadores independentes, e destacou que “a validação online das declarações/remunerações permitiu às empresas, em custos administrativos, uma poupança na ordem dos 260 milhões de euros”.
A alimentação e o impacto da agricultura e da pesca na economia foi o tema da intervenção de Manuel Meireles, delegado regional da Península de Setúbal da DRAPLVT.
Para este responsável, “sem desenvolvimento sustentável, não há futuro” e exemplificou com o facto “da produção alimentar estar concentrada em cinco produtos que são responsáveis por 80% do que comemos (arroz, milho, trigo, soja e batata) quando existem 36.000 plantas e animais que fornecem alimentos ao homem”, uma realidade que “se faz à custa da desflorestação e da sobrecarga ambiental”.
Manuel Meireles defendeu “o desenvolvimento de um projeto alimentar territorial à escala da Península de Setúbal, que possa responder aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, melhorar a saúde dos portugueses e promover a educação alimentar” e neste capítulo deu exemplos de boas práticas nas autarquias locais, bem como ao nível do Governo com “iniciativas que podem melhorar a situação ao nível da sustentabilidade, a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica e o Estatuto da Agricultura Familiar”.
Francisco Carriço, vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços, alertou para a progressiva extinção dos recursos provenientes da caça e da pesca e a globalização da agricultura com o consequente desenvolvimento do comércio dos produtos agrícolas.
Em relação ao futuro do trabalho, Francisco Carriço considerou que a empregabilidade está na área dos serviços, nomeadamente no setor da saúde e da estética, tendo em conta o aumento da esperança de vida com qualidade, e na área da educação, com a necessidade da formação profissional. “É importantíssimo o país pensar se quer ir atrás da globalização ou se quer combatê-la através de um pensamento profundo, em que o Governo e os organismos públicos têm que rever conceitos, para estarmos todos do mesmo lado”, disse.
A diretora-adjunta do Centro de Emprego do Sul Tejo destacou que o IEFP pretende ter com as entidades empregadoras (empresas e instituições particulares de solidariedade social) “uma relação de parceria, tendo em vista a satisfação da necessidade de recrutamento” e que para o efeito disponibiliza no seu portal um conjunto de informações. Patrícia Lourenço destacou ainda as medidas Estágios Profissionais (formação em contexto de trabalho durante 9 meses), Contrato-Emprego (com apoios diretos à contratação de trabalhadores) e Formação para Ativos (para pessoas que trabalham nas empresas).
A Primohorta foi apresentada como um exemplo de boas práticas, tendo o seu representante referido que a empresa “modificou a forma de trabalhar das pessoas da região no setor primário”. Paulo Salazar Leite defendeu que há necessidade de dar “dignidade ao trabalho” e que muitas das vezes se coloca a questão de “saber se as pessoas querem mesmo trabalhar”. “Temos que nos adaptar porque as mudanças no trabalho vão ser grandes (…) o que temos de ter é um ensinamento para a vida e motivar as pessoas que têm maiores dificuldades”, disse.
A encerrar o debate, a presidente do CDSSS, Natividade Coelho defendeu “a mudança” em relação à forma como encaramos o trabalho e que este tem de ser valorizado por todos.