Encontro sobre espécies exóticas reúne mais de 200 participantes
Mais de 200 pessoas participaram ontem, 22 de Março, no 1.º Encontro sobre Espécies Aquáticas Exóticas do Tejo, que decorreu o fórum cultural de Alcochete, durante o qual foi debatida a problemática em torno das espécies não endógenas que proliferam no rio Tejo.
Esta foi a primeira vez que esta problemática foi abordada de uma forma mais abrangente por investigadores de diferentes instituições, nomeadamente, MARE, ICNF, IPMA, EMEPC e ISA, que de uma forma geral alertaram para a ameaça que estas espécies não nativas representam para a biodiversidade existente na bacia hidrográfica do Tejo, em que algumas delas são atualmente vistas com um recurso económico. Atualmente, além da amêijoa-japonesa, o lagostim-vermelho-da-Luisiana e o Lucioperca são espécies exóticas que são geradoras de ganhos económicos.
Para o presidente da câmara municipal este encontro constituiu uma oportunidade para a discussão de uma situação que afeta a comunidade desta região: “Há uma espécie exótica ou seja não nativa que tem preocupado o município de Alcochete nos últimos anos que é a amêijoa-japonesa, que com a sua proliferação no estuário do Tejo tem gerado uma atividade que tem de ser analisada de forma responsável pelas entidades com competências neste domínio: a câmara municipal de Alcochete, mas também as secretarias de estado das Pescas, do Ordenamento do Território e também o ministério da Economia de forma a enquadramos devidamente esta atividade”, disse Luís Miguel Franco.
O autarca anunciou a celebração de um protocolo com formato ainda não definido que permita ao município de Alcochete em associação com a RNET e com MARE aprofundar o estudo e a investigação relacionados com os ecossistemas estuarinos e a valorização deste território tão singular como é o concelho de Alcochete.
A diretora do departamento de Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo, Maria de Jesus Fernandes, considerou que este é um assunto complexo que envolve áreas muito diferentes e sobre o qual existe ainda um grande desconhecimento “o cidadão comum sabe muito pouco da ecologia e dos sistemas destas espécies e nesse sentido bem hajam os investigadores que partiram para esta iniciativa de nos trazer um pouco do seu conhecimento e de partilhar connosco aquilo que sabem e que melhor fazem nestas áreas”.
"Existe a componente económica e a problemática associada a algumas espécies exóticas principalmente aqui na região em que nos encontramos, mas evidentemente qua não se esgotam aqui as questões ligadas às espécies exóticas que ocorrem no Tejo”, sublinhou Maria de Jesus Fernandes, que acrescentou ainda que: “a alteração da legislação nacional esteve em discussão pública e há uma proposta técnica preparada pelo ICNF, mas não há ainda decisão sobre a matéria”.
Em representação do diretor do MARE, Henrique Cabral, Lino Costa, destacou a importância deste encontro como forma de divulgar junto do público em geral os impactos gerados pela introdução de espécies exóticas: “Há autores, investigadores que defendem que a introdução de espécies exóticas é neste momento a segunda maior causa de degradação dos ecossistemas marinhos e estuarinos, inclusivamente à frente dos impactos relacionados com a exploração dos recursos, ou seja, que a pesca”.
“Esta é seguramente a primeira vez que se realiza um encontro na perspetiva do Tejo e seguramente em Portugal é a primeira vez é feito ao nível de qualquer um dos sistemas e esta é uma oportunidade excelente para o diálogo entre diferentes tipos de atores, porque estão aqui cientistas, técnicos, decisores, e público em geral, e isso é muito importante porque todos têm um papel fundamental para conseguirem ajudar a resolver a problemática das espécies exóticas”, concluiu o professor Lino Costa.
A partir da iniciativa de três investigadores do MARE: Paula Chainho, Filipe Ribeiro e Pedro Anastácio e sob o lema “cada um no seu lugar e prevenir é o melhor remédio” este primeiro encontro facilitou a divulgação do trabalho científico desenvolvido até ao momento, com base numa abordagem mais abrangente do ponto de vista territorial e dos grupos taxonómicos analisados.
Para a investigadora Paula Chainho a prevenção é o melhor caminho para contrariar esta "invasão" em particular no Tejo em que “a navegação é um fator que facilita a introdução de espécies, nomeadamente espécies originárias do Indo-Pacifico”, e nesse sentido é fundamental “assegurar a limpeza das embarcações, a monitorização e deteção precoce das espécies e não libertar organismos vivos, e ainda cumprir a convenção internacional para controle e gestão da água de lastro e sedimentos de navios, que entra em vigor em setembro de 2017”.
Com base numa caraterização dos ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Tejo, que regista o maior número de espécies exóticas, estão identificadas até ao momento, 57 espécies exóticas aquáticas, e os grupos taxonómicos com um maior número de espécies são as “plantas e algas” e “peixes”, com 16 espécies cada.
Atualmente, a taxa de deteção de espécies exóticas aquáticas no rio Tejo é de cerca de duas novas espécies por ano, mas tirando algumas exceções ainda se sabe muito pouco sobre os impactos das exóticas nos ecossistemas aquáticos no Tejo, sendo considerado prioritário a criação de competências sobre as espécies não-indígenas, incluindo ao nível das entidades decisoras, que incluam conhecimentos sobre a identificação, regulamentação em vigor e possíveis medidas de prevenção para cada espécie.
Estas são algumas das conclusões provisórias que serão complementadas com os resultados do debate do encontro e que serão posteriormente enviados para todos os participantes no encontro e remetidas para os organismos com competências nesta matéria.
Este primeiro encontro que visou alertar o público em geral para esta problemática constituiu o primeiro passo em direção à gestão e priorização no controlo das espécies exóticas nos ecossistemas aquáticos.