Recordação das murtoseiras das secas do bacalhau marcada pela emoção
A emoção dominou as muitas pessoas que assistiram, no dia 5 de março, na biblioteca de Alcochete, à apresentação do documentário “As murtoseiras nas secas do bacalhau de Alcochete”, produzido pela câmara municipal da Murtosa, um evento que marcou o início das comemorações do Dia Internacional da Mulher em Alcochete.
A vereadora da Cultura de Alcochete, Raquel Prazeres, e os vice-presidentes das câmaras municipais de Alcochete e da Murtosa, respetivamente José Luís Alfélua e Januário Cunha, presidiram à sessão informal, à qual assistiram o atual presidente da assembleia municipal de Alcochete, Fernando Leiria, o ex-presidente da assembleia municipal e ex-presidente de câmara, Miguel Boieiro e a presidente da assembleia de freguesia de Alcochete, Manuela Boieiro, assim como uma comitiva de naturais da Murtosa e murtoseiras e seus descendentes radicados em Alcochete.
Depois de agradecer a presença de todos, a vereadora da Cultura salientou que o documentário, “generosamente cedido pela câmara da Murtosa, sendo da identidade cultural do povo da Murtosa, também o é de Alcochete”.
“Achámos por bem integrar este visionamento do documentário e a conversa seguinte nas comemorações do Dia Internacional da Mulher porque este é um dia que comemora a luta das mulheres no âmbito do trabalho e tendo o nosso país evoluído tanto, e de hoje em dia já ter muito mais condições, estas continuam a não ser iguais entre mulheres e homens”, disse.
Sobre o documentário, Raquel Prazeres sublinhou que “estes testemunhos de vidas tão difíceis e de mulheres com tanta força devem inspirar sobretudo as mais jovens a ter esta força de luta, de trabalho, e a continuarem em frente, a terem esperança de que as coisas podem melhorar”.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Alcochete também deu o seu testemunho pessoal em relação à iniciativa. “É um gosto, um privilégio e uma satisfação estar aqui porque a minha mãe era murtoseira e esta iniciativa permite reviver aquilo que eu conheci das secas do bacalhau (…) tenho na memória toda aquela enorme atividade quando as secas estavam a laborar no período do verão, conjuntamente com as salinas de Alcochete a funcionarem em pleno e aquilo era um turbilhão de gente”, referiu José Luís Alfélua.
Por sua vez, o vice-presidente da câmara da Murtosa sublinhou que “estes momentos são particularmente emocionantes”. “A possibilidade que nos é dada de poder proporcionar a outros este espaço de reencontro e de memória é algo que não tem preço”, acrescentou.
Segundo Januário Cunha, este reencontro entre murtoseiros da Murtosa e os que vieram da Murtosa para Alcochete representa “o início de uma bela amizade e de uma relação institucional entre duas autarquias que mais não faz do que, no fundo, cruzar do ponto de vista institucional aquilo que há muitos anos já existe e que é esta relação íntima e imensa”.
“O documentário é um conjunto de entrevistas contextualizadas que falam da visão de cinco senhoras, três entrevistadas por mim na Murtosa, e outras duas murtoseiras entrevistadas aqui em Alcochete”, explicou o autarca. “Este filme mostra uma faceta daquilo que eram e que foram durante muitos anos os grandes fluxos migratórios de gente, não só da Murtosa mas de toda a sua região (…) para o litoral do país”, disse, acrescentando que “é impossível escutar estas senhoras sem ter um profundo respeito por elas, por aquilo que elas passaram, pela sua tenacidade”. Isabel Carramona, Maria Lucília Silva e Maria Antónia Figueiredo foram entrevistadas na Murtosa e Maria do Carmo Santos e Maria José em Alcochete.
Em nome da comitiva de cerca de 20 pessoas que vieram da Murtosa até Alcochete, Januário Cunha expressou ainda “a gratidão pela forma como foram recebidos em Alcochete”. “A honra que nos deram de nos receberem, a forma simpática e calorosa com que fomos aqui recebidos, levamos no coração de volta a 300km de distância”, concluiu o autarca, que lançou o desafio à autarquia para que organize uma visita de murtoseiros e alcochetanos à Murtosa.
Após a apresentação do documentário vários foram os testemunhos de descendentes das murtoseiras e de pessoas de Alcochete que vivenciaram a realidade das mulheres da Murtosa que trabalhavam nas secas do bacalhau em Alcochete e que trouxeram para o quotidiano deste concelho uma nova cultura. A sessão encerrou com a troca de lembranças entre os dois municípios e um momento de convívio entre todos os participantes.