Participantes da “Borda d’Água” auguram bons ventos ao Leão
No passado dia 16 de junho, a noite foi dedicada às embarcações tradicionais do Tejo com a realização de uma Conversa da Borda d’Água, no núcleo de arte sacra, uma iniciativa que conjugada com a inauguração da exposição “O rei dos Nordestes regressa ao Tejo”, antecedeu a viagem inaugural do Bote Leão.
Apaixonado pelo mar e pelos barcos, Luís Miguel Correia moderou esta conversa entre o presidente da câmara municipal, Luís Miguel Franco, o presidente da Marinha do Tejo, Almirante Bastos Saldanha, o professor doutor Carvalho Rodrigues, o presidente do conselho da administração da Lusoponte, Joaquim Ferreira do Amaral, e o proprietário do estaleiro naval de Sarilhos Pequenos e responsável pela construção do Bote Leão, Jaime Costa.
Representantes de associações navais, apaixonados pelo mundo náutico e alcochetanos/as de várias gerações também marcaram presença nesta iniciativa que, num ambiente informal, foi um convite para a partilha de memórias e opiniões sobre a cultura marítima.
Luís Miguel Franco inaugurou o ciclo de intervenções, convidando o público a olhar para a exposição patente no núcleo de arte sacra que apresenta duas dimensões: a histórica e, uma outra, que reflete toda “a aventura” que foi a construção de raiz de uma embarcação tradicional.
“Sempre me habituei a ouvir falar do Bote Leão enquanto embarcação típica, emblemática e etnográfica de Alcochete. Revisitámos o passado e tentamos perceber porque razão o Bote Leão criou tantas paixões, um amor tão significativo junto das gentes de Alcochete”, começou por referir o autarca.
Sobre o processo de construção desta embarcação, o presidente da câmara municipal partilhou que “foi um trabalho em que fomos sentindo a paixão destes homens pelo seu trabalho”, referindo-se concretamente a todos os homens que trabalham no estaleiro naval de Jaime Costa, e prosseguiu, agradecendo também a participação ativa da Lusoponte na concretização deste objetivo: “O apoio da Lusoponte foi inexcedível e imediato e, por isso, fica aqui uma dívida para com estes homens e mulheres que não se limitaram a cumprir a responsabilidade social. Foram muito mais além, foram amigos de Alcochete e essa gratidão nunca se vai apagar”.
Numa antevisão da chegada do Bote Leão a Alcochete, e sendo esta uma embarcação com história, Luís Miguel Franco augurou bons ventos para o [novo] Leão: “esperamos que seja também um protagonista da história e que daqui a cem anos, as gerações vindouras também se recordem com saudade dos passeios do novo Bote Leão que pincelaram o rio Tejo, com as suas cores garridas e vivas, e que os ventos que lhe vão enfunar as velas e as águas do nosso rio Tejo que lhe vão beijar o casco, lhe sejam sempre bonançosos”.
O mestre Jaime Costa também não conseguiu esconder a sua emoção: “para mim foi um orgulho muito grande porque foi a primeira embarcação que se fez neste estaleiro com esta dimensão e que é uma homenagem às pessoas do Tejo, à nossa história e às pessoas que conseguiram, até aos dias de hoje, preservar as memórias do Bote Leão”.
Ao fazer uma retrospetiva da construção do Leão e de todos os momentos bons, e menos bons, que marcaram esta fase, Jaime Costa teceu vários elogios à sua equipa, considerando que esta embarcação é também uma homenagem a todas essas pessoas que dedicaram uma vida de trabalho à construção naval. “Fizemos tudo pelas nossas mãos, desde a quilha até ao mastro, e o amor que dedicamos a esta embarcação acho que não tem paralelo em lado nenhum”, sublinhou o mestre que lançou ainda um apelo para a importância de continuar a cultivar uma cultura marítima.
Construído pela câmara municipal, com o apoio mecenático da Lusoponte e ao abrigo de fundos comunitários, o presidente do conselho de administração da Lusoponte, Joaquim Ferreira do Amaral, recordou a ligação familiar a Alcochete e as memórias de infância, onde o Bote Leão ocupa um lugar de destaque.
Considerando a sua ligação às gentes locais, para Joaquim Ferreira do Amaral, a construção do Bote Leão é, sem dúvida, uma questão de reafirmação cultural: “estamos todos a falar de cultura que é aquilo que mais nos une. Somos um produto da nossa cultura”.
“A navegação no Tejo foi essencial para o desenvolvimento e criação de toda esta zona, para a sua atividade económica e, por acréscimo e como é natural, para a sua componente cultural que agora ressurge com esta iniciativa da câmara municipal que só pode contribuir para a reafirmação das suas raízes”, frisou Joaquim Ferreira do Amaral.
Entusiasta e atualmente a assumir um papel predominante na preservação da “alma do Tejo”, o professor doutor Carvalho Rodrigues deixou um conjunto de considerações relacionadas com o assoreamento do rio Tejo e deixou ainda uma palavra de reconhecimento ao estaleiro naval de Jaime Costa. “As pessoas da margem sul têm a soberania sobre os saberes e o Jaime Costa é um dos pilares dessa soberania, que é passada de geração em geração, essa habilidade de ser capaz de fazer, algo que se vai perdendo”, reforçou.
Partilhando da mesma opinião que o professor doutor Carvalho Rodrigues, o presidente da Marinha do Tejo, Almirante Bastos Saldanha, foi mais além e lançou o desafio: “o Bote Leão tem que ser uma escola de mar e de saberes relacionada com os mareantes do Tejo. E, como o mestre Jaime Costa disse, deve ser também uma escola que, através de todos os desafios que a construção naval coloca, deve contribuir para o enriquecimento do conhecimento”.
A um dia de comemorar o Dia da Marinha do Tejo, Almirante Bastos Saldanha mostrou-se igualmente satisfeito por, a 18 de junho, ter 75 embarcações a efetuar inscrição oficial no Livro de Registos, um número que o Almirante acredita não haver igual em todo o país.
Após uma primeira ronda de intervenções, foram vários os cidadãos que quiseram dar o seu contributo e partilhar episódios marcantes sobre histórias do mar, de marítimos e do Leão.
A exposição “O Rei dos Nordestes regressa ao Tejo” está patente ao público até 2 de outubro, no núcleo de arte sacra, e pode ser visitada no seguinte horário: terça-feira, das 14h00 às 17h30, de quarta a sexta-feira, das 10h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, ao sábado, das 14h30 às 18h30, e ao Domingo, das 10h30 às 12h30 e das 14h30 às 18h30.
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