Assembleia Municipal aprova Tauromaquia a Património de Interesse Municipal
De uma forma sucinta, o Presidente da Câmara Municipal, Luís Miguel Franco, enquadrou esta proposta e referiu que: “durante o mês de Março reuniu-se a secção de Municípios com actividade taurina e foi decidido, por unanimidade, fazer aprovar uma proposta de declaração da Tauromaquia enquanto possuidora de interesse municipal”.
“Naturalmente que a Câmara Municipal, e penso que a Assembleia Municipal, reconhecendo aquela que é a parte integrante da nossa identidade cultural, não podia deixar de formalmente apresentar esta proposta para apreciação e deliberação, que acho que é pacífica, porque todos nós reconhecemos a festa brava nas mais suas diversas manifestações quer formais, como informais, e como parte integrante da nossa identidade”, destacou Luís Miguel Franco.
Para além de ser parte integrante do património cultural imaterial português, a Tauromaquia assume particularmente no Município de Alcochete uma relevância cultural, social e económica que é manifestada através de festividades taurinas e populares. Aliás, e de acordo com registos documentais, podemos afirmar que esta é uma tradição fortemente enraizada na cultura popular de Alcochete que remonta à segunda metade do século XV, ao reinado de D. João II.
Na crónica de Garcia de Resende, que narra a bravura de D. João II perante um toiro em Alcochete, pode ler-se o seguinte: “Estando el Rey em Alcouchete, hindo hum dia de casa a pe com a Rainha, e damas, e senhores, e muytos fidalgos a ver correr touros no terreiro junto da Igreja, acertou que metendo hum touro na cancella fogio de corro, e veyo por a rua principal por onde el Rey hia, e diante do touro vinha muyta gente, fogindocom grande grita. Foy o receo tamanho nos que hiam diante del Rey que todos fogiram, e se meteram por casas, e travessas. E el rey so tomou a Raynha pola mao, e posze diante della com a capa no braço, e a espada apunhada com muyto grande segurança esperou assi o touro, que quis Deos que passou sem enteder nelle”.
A célebre Manada de São João, religiosamente mantida pelo povo de Alcochete para assegurar a realização dos festejos taurinos de São João, e que remontam provavelmente a finais da Idade Média são outro exemplo histórico que comprova que a tauromaquia está enraizada na identidade local.
Alcochete está igualmente associada à criação e apuramento de raças taurinas. Para além da famosa ganadaria do Comendador Estêvão António de Oliveira no século XIX, reconhece-se actualmente o contributo do Engenheiro Samuel Lupi, com a criação das ganadarias Samuel Lupi e Rio Frio.
Do mesmo modo, a existência de dois importantes grupos de forcados – Forcados Amadores do Aposento do Barrete Verde e Forcados Amadores de Alcochete – constitui um reforço na transmissão de uma das manifestações tauromáquicas, com quase 200 anos de história: a arte de pegar o toiro.
Perante estes factos, a Assembleia Municipal aprovou uma declaração onde se refere o seguinte: “A Tauromaquia, nas suas diversas manifestações, engloba um conjunto de tradições e expressões orais, de artes do espectáculo, de práticas sociais, rituais e eventos festivos e de conhecimentos e práticas relacionadas com a natureza que se encontram, desde há séculos, presentes e vivos no Município de Alcochete. Como tal, e em conformidade com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, ratificada por Portugal a 26 de Março de 2008 e com o disposto no artigo 78.º da Constituição da República Portuguesa, decide a Câmara Municipal de Alcochete reconhecer e declarar a Tauromaquia como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal”.