Município “recupera” Igreja de Santa Maria de Sabonha
No âmbito das Jornadas Europeias do Património, o Município de Alcochete apresentou à população, no passado dia 24 de Setembro, no Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal de Alcochete, uma proposta de reconstituição tridimensional da igreja mais antiga de que há registo no concelho de Alcochete, de evocação a Nossa Senhora de Sabonha, construída no século XIII no território da Freguesia de São Francisco.
Esta apresentação contou com a participação do Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Alcochete, Paulo Alves Machado, e do Arqueólogo do Museu Municipal de Alcochete, Miguel Correia, que procederam à contextualização do evento e do tema proposto, intitulado “Sabonha, Uma Reconstituição do Passado”.
O Vereador da Cultura, Paulo Alves Machado, salientou que o Município de Alcochete se associa desta forma “a uma iniciativa europeia que visa precisamente proteger e divulgar o património”, “uma iniciativa que em Portugal é tutelada pelo IGESPAR, que procura este ano juntar a temática do património com a paisagem urbana”, duas vertentes que, segundo o autarca, são indissociáveis e às quais se deve juntar o património imaterial das populações.
Para Paulo Alves Machado, “a ideia de protecção do património, reflectindo os valores sociais, culturais e naturais de uma unidade do território é uma matéria que é cara às Câmaras Municipais”, tendo em conta que “no actual contexto nacional, em que se discute novamente a alteração do municipalismo português, os municípios foram nos últimos 35 anos, na maioria do Poder Local Democrático, talvez as mais importantes instituições na defesa do património dos seus territórios”, dando como exemplo a recuperação da Igreja da Misericórdia de Alcochete, realizada pela Câmara Municipal de Alcochete, na década de 90 do século XX.
“Temos a oportunidade de aqui hoje retornar ao passado, a um passado bem longínquo se pensarmos nas nossas vivências e voltarmos a Santa Maria de Sabonha”, um recuo que considerou “interessante numa altura em que se discute o municipalismo”.
“Espero que seja também um bom augúrio porque antes da primeira grande reforma municipal, feita por D. Manuel I, este município que hoje se chama Alcochete integrava um território mais vasto que veio a ser progressivamente transformado até às dimensões que hoje conhecemos do território de Alcochete, Montijo, Moita, Alhos Vedros e Barreiro”, referiu o autarca, que sugeriu a divulgação desta apresentação junto da comunidade educativa e em São Francisco.
Seguiu-se depois a apresentação pública, realizada por Miguel Correia, Arqueólogo da Câmara Municipal de Alcochete, a quem coube fazer a contextualização histórica da época, a reconstituição tridimensional de como teria sido a evolução arquitectónica da Igreja de Santa Maria de Sabonha e o seu enquadramento na paisagem urbana da Freguesia de São Francisco.
“Antes de existir o Convento de São Francisco, destruído no século XIX, existia no local uma Igreja mais antiga, de evocação a Santa Maria de Sabonha”, referiu Miguel Correia, salientando que a proposta de reconstituição da Igreja pretende ser “uma tentativa de aproximação mais exacta possível ao que seria essa antiga igreja, da qual não sobreviveu até aos nossos dias nenhuma iconografia, nenhuma imagem” e que teve como fontes as Visitações (inventários) da Ordem de Santiago, sobretudo de 1512 e 1553, e as intervenções arqueológicas municipais realizadas no local em 2002/2004, 2005 e 2010.
Segundo Miguel Correia, a Igreja de Santa Maria de Sabonha foi mandada construir pelo Bispo de Lisboa em 1252, “igreja essa que teve o seu período de importância como espaço onde se reuniam as pessoas importantes para organizar a vida do concelho e ao mesmo tempo para o próprio culto religioso que lhe era destinado, mas, paulatinamente, sobretudo nos finais do século XV, inícios do século XVI, a Igreja foi sofrendo ruína, abandono e desgaste porque houve o desenvolvimento dos aglomerados urbanos de Alcochete e Aldeia Galega, actualmente Montijo”.
“Contudo, em 1571, a Igreja, estando muito arruinada, acabou por ganhar um novo fulgor com a vinda dos franciscanos que aí instalaram um convento e que decorreu normalmente até 1836, altura em que assistimos à extinção das ordens religiosas”, acrescentou, referindo ainda que nessa altura “o convento já estava em ruína e acabou por ser vendido em hasta pública, depois demolido e do qual apenas restaram os arcos que simbolicamente carregam o peso da história associada ao local”.
De acordo com a investigação realizada pelo Museu Municipal de Alcochete, a Igreja de Sabonha possuía uma capela-mor com um retábulo de madeira pintada e ao centro um nicho com a imagem de Nossa Senhora. O altar era de pedra lioz, provavelmente forrado a azulejos hispano-arábes, de acordo com os vestígios arqueológicos. Existiam duas capelas, a de São Pedro, edificada por Vasco Afonso no início do século XV, e a de São Brás, dada por D. Manuel I a Brás Dias.
A Igreja de Sabonha tinha uma nave única com 18,15m de comprimento por 6,5 metros de largura, com uma pia baptismal oitavada e duas entradas laterais, um alpendre à entrada e a casa do ermitão, elementos que, no seu conjunto, estiveram na génese da reconstituição tridimensional do imóvel, que também se inspirou na Capela de Nossa Senhora da Guadalupe, situada em Vila do Bispo, e na Igreja de São Lourenço, em Alhos Vedros.
Quanto à sua localização, a Igreja de Nossa Senhora de Sabonha situava-se junto ao edifício onde funciona actualmente a Extensão de Saúde da Freguesia, no espaço público existente junto aos Arcos de São Francisco.