Livro “A Filha de Ninguém” dá mote a sessão sobre a Mulher
Integrada nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, a Biblioteca de Alcochete acolheu, no passado sábado, dia 12, a apresentação do primeiro livro de Manuela Bulcão “A Filha de Ninguém”, já numa 2ª edição, uma obra de retrata a história de vida de uma mulher açoreana no século XX.
Este evento contou com a participação da Vereadora da Cultura, Dra. Susana Custódio, do Vereador do Ambiente e Espaços Verdes, Jorge Giro, do poeta Luís Ferreira, do docente e investigador, Prof. Doutor José Zaluar Basílio, e do representante da Folheto Edições & Design, Dr. Adélio Amaro.
A Vereadora da Cultura do Município de Alcochete justificou a homenagem às mulheres em Alcochete, dizendo que “a mulher, com todo o percurso que fez, com todo o seu presente e os desafios que tem para o futuro, merece que se assinale o Dia Internacional da Mulher”.
“Hoje, as dificuldades acabam sempre por sobrar para a mulher porque ainda é no papel da mulher que está a capacidade, a função de fazer a gestão do orçamento familiar”, acrescentou.
Susana Custódio defendeu ainda que se deve caminhar para a comemoração do “Dia Mundial da Mulher, uma vez que não queremos nem gostamos de estar fechadas só sobre a nossa sociedade e existem outras sociedades onde a mulher tem ainda um caminho muito longo a percorrer”.
Também o Vereador Jorge Giro usou da palavra para destacar que a obra “A Filha de Ninguém”, apresenta “a luta, o trabalho, o sacrifício e todos os problemas que as mulheres passaram nos tempos idos, uma realidade que é transversal a todas as mulheres do País”.
Luís Ferreira, poeta e amigo da autora, sublinhou que o livro de Manuela Bulcão “apresenta todos os condimentos que rasgam a natureza humana, possuindo uma elevada carga emotiva que prende a leitura da primeira à última folha”.
Recordou também a sua visita aos Açores e incentivou à leitura da obra, que leu “de forma apaixonada, absorvendo todas as suas emoções e as essências, que ora traduzem dor e sofrimento, ora ecos de esperança e amor”. “As relações humanas são sem dúvida o prato forte deste livro, mas destaco o papel da mulher e a imagem do feminino que esta obra relata”, acrescentou.
Também convidado para participar na apresentação do livro em Alcochete, José Zaluar Basílio defendeu o conceito de felicidade como um direito que deve constar na base da autonomia dos povos e destacou a influência e o papel das mulheres no processo de implantação da República Portuguesa, no 25 de Abril e durante a Guerra Colonial, sublinhando a imperiosa e justa necessidade de se investigar e divulgar a verdade sobre as mulheres portuguesas, das quais citou os exemplos de Angelina Vidal e Carolina Beatriz Ângelo.
A influência de D. Manuel I, rei que atribuiu foral a Alcochete em 1515 e que em 1501 criou o concelho das Lajes, na ilha do Pico, as personalidades ilustres da cultura ligadas aos Açores, tais como Vitorino Nemésio, Raúl Brandão e Natália Correia, foram, entre outras, relembradas durante a intervenção de Adélio Amaro, que concluiu com a asserção de que “ser ilhéu não é negativo”, não obstante uma certa carga negativa que possa perpassar no romance “A Filha de Ninguém”.
“A condição de mulher é algo indeterminado na nossa sociedade. Como mulher já senti várias aproximações à realidade, como mulher já senti alegrias e muitas, muitas injustiças”, disse Manuela Bulcão. “Quando escrevi o romance “A Filha de Ninguém” quis expor a situação de injustiça que certas mulheres sofreram e muitas delas muito próximo de mim (…) A narrativa do romance, passada no século XX na ilha do Faial, Açores, “ilha azul” denominada por Raúl Brandão, demonstra o modo como a vida de certas mulheres era conduzida: uma educação que despreza a liberdade feminina”, salientou.
As comemorações do Dia Internacional da Mulher no Município de Alcochete decorreram de 5 a 13 de Março com várias iniciativas, com destaque para a inauguração da exposição de fotografia “Olhar Feminino sobre as Mulheres do Sahara Ocidental”, que está patente ao público na Galeria Municipal dos Paços do Concelho até 8 de Abril.