Autarcas evocam ideais de Abril e estratégias face à crise
A evocação dos ideais do 25 de Abril e a tomada de posição face à crise política nacional marcaram os discursos dos autarcas e responsáveis partidários que ontem, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, participaram na Sessão Solene promovida pela Assembleia Municipal para comemorar o 37.º aniversário da Revolução dos Cravos.
“Naquele primeiro 1.º de Maio acreditávamos firmemente de que todos queríamos o mesmo, pois as dezenas de partidos e movimentos políticos que vieram à tona inscreviam nos seus programas a construção do socialismo”, recordou o Presidente da Assembleia Municipal, um objectivo que não se concretizou num País agora comparado “a uma casa onde não há pão e onde os eleitores não sabem onde paira a razão”.
Segundo Miguel Boieiro, “a recuperação do País terá de passar pela reconsideração do Estado como “pessoa de bem” e pela expulsão dos “vendilhões do templo”, pela reabilitação da política e dos políticos e pela enunciação da verdade”, sendo que “a produção e a produtividade são valores determinantes da Revolução”.
Também o Presidente da Câmara Municipal, Luís Miguel Franco, reafirmou os valores de Abril e a homenagem aos Capitães de Abril e ao povo que iniciaram uma “revolução nos direitos, liberdades e garantias”, “uma Revolução que construiu o Poder Local Democrático”, “uma Revolução que se renova todos os dias”.
O Presidente do Município lamentou que os ideais de Abril não tenham sido implementados por alguns dos responsáveis políticos que implementaram “políticas desastrosas”, “que agravam em grande medida a qualidade de vida dos portugueses”: “São já mais de 550 mil os portugueses desempregados, milhares de pessoas viram os seus apoios sociais cortados ou reduzidos, a precariedade no emprego sobe, os jovens têm o seu futuro hipotecado, os impostos dispararam para patamares ofensivos e insustentáveis”, referiu o autarca.
Luís Miguel Franco apelou, no entanto, “à confiança no futuro”, à semelhança da política seguida pela Câmara Municipal de Alcochete que “vive, hoje, um momento crucial de desenvolvimento no que respeita ao planeamento, mas também à concretização de projectos e obras estruturantes”, entre as quais o novo edifício da Extensão de Saúde de Samouco, uma obra concretizada pela Autarquia com inauguração prevista para Maio, na sequência de uma reunião recentemente realizada no Ministério da Saúde.
Nesta Sessão Solene da Assembleia Municipal usaram igualmente da palavra os representantes dos partidos políticos que compõem este órgão autárquico.
“Assinalamos esta data num ambiente e numa conjuntura extremamente difícil” realçou Luís Batista, em representação do Partido Social Democrata (PSD). “A crise que assola o País pode tornar-se, a breve trecho, num quadro de falência social e económica sem precedentes, atingindo todos, mas com especial incidência, as famílias mais desfavorecidas e os trabalhadores em posição precária”, acrescentou. Para o líder social-democrata, “é chegada a hora de inverter o rumo” pois o “País tem a necessidade de encarar os problemas com frontalidade e determinação”.
Em representação do Partido Socialista (PS), o deputado municipal José Luís Catalão saudou “o 25 de Abril da liberdade, da tolerância, da igualdade e da fraternidade, o 25 de Abril da democracia, da descolonização e do desenvolvimento, o 25 de Abril da paz mas também das utopias e dos sonhos ainda por concretizar”.
Para o deputado socialista, “é inquestionável que foi um punhado de indómitos e jovens capitães que ousou levar de vencida a ditadura e interpretar os mais lídimos sentimentos de um povo”. Segundo o autarca, “é para o futuro que devemos voltar os olhos, não ignorando quer os erros cometidos, quer os problemas que longamente adiámos e que temos obrigação de resolver”.
Por sua vez, Fernando Leiria, em representação da Coligação Democrática Unitária (CDU), salientou que “não nos podemos resignar e aceitar os atropelos constantes aos ideais de Abril”, retrocessos evidentes nos “níveis de desemprego assustadores, com o consequente crescimento da pobreza, da miséria, a precariedade, a falta de apoios sociais e o retorno da necessidade de recurso à emigração”.
Para o representante da CDU, as causas de um dos momentos mais difíceis da história de Portugal “devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela Comunidade Europeia para o esforço de adesão e adaptação às exigências da União” e as alternativas à crise económica e financeira passam por outras medidas que não as de austeridade impostas aos portugueses.
A Sessão Solene comemorativa do 37.º aniversário do 25 de Abril no Município de Alcochete encerrou com a actuação do Grupo Rubro, que homenageou Zeca Afonso com a interpretação de algumas das suas mais famosas canções.
Discurso do Presidente da Assembleia Municipal