Alexandre Costa leva bandeira do Município ao cume do Kilimanjaro
Com um currículo invejável na área da fotografia Alexandre Costa é um filho adoptivo de Alcochete que entre muitas viagens, pelos locais mais inóspitos e simultaneamente mais belos do planeta levou a bandeira do Município ao ponto mais alto do continente africano – o Kilimanjaro.
A paixão pela fotografia surgiu ainda durante o serviço militar obrigatório mas desde a velhinha Zeiss Ikon, muito já evoluiu Alexandre Costa, que alia à mais recente tecnologia o seu olhar sensível, mas objectivo, na procura de um momento, paisagem ou olhar no meio de tantos outros que se encerram na dimensão humana.
A subida ao Kilimanjaro surgiu numa conversa informal com o vereador Paulo Machado e a determinada altura o fotógrafo admite que foi a Bandeira do Município que lhe deu a motivação extra para subir à montanha mais alta de África.
“Nunca me passou pela cabeça subir ao Kilimanjaro, nunca esteve nos meus horizontes subir à montanha mais alta de África, mas tal aconteceu e foi muito bom ver os parques naturais da Tanzânia”, explica Alexandre Costa.
E sublinha: “Há uma coisa que tenho de reconhecer, a partir de uma determinada altura não sei se não foi a bandeira de Alcochete que me fez lá ir acima”.
Esta experiência em África foi um bom teste à resistência do fotógrafo que com 63 anos conquistou os 5895 metros do Kilimanjaro. Na fase final da expedição o percurso teve início, no acampamento base, por volta das 23h30 e terminou no ponto mais alto, “Uhuro Peak”, às 06h20 do dia seguinte.
Foi uma etapa dura, feita com muito frio, mas compensatória segundo Alexandre Costa: “O percurso é feito de noite para chegarmos ao pico e vermos o nascer do sol, que é fascinante, para depois fazermos o regresso de dia”.
No entanto é com alguma tristeza que o fotógrafo refere um aspecto triste desta sua aventura ao Monte Kilimanjaro, que está relacionado com a forma como o ser humano é tratado, nas diferentes situações e em diferente partes do mundo. As pessoas que constituíam a equipa de apoio à expedição não têm condições para o fazer. “Garantem a segurança e sobrevivência dos turistas pondo muitas vezes em causa a sua própria segurança”, sublinha o fotógrafo.
O gosto pela fotografia começou em 1965
Pela primeira máquina fotográfica, uma Zeiss Ikon, Alexandre Costa pagou a um amigo a quantia de 1500 escudos, em 1965, e foi com ela que registou alguns episódios da Guerra Colonial e o nascimento do primeiro filho, ainda de uma forma empírica.
O gosto e interesse pela fotografia só viria a intensificar-se na década de 80 e nesta altura impunha-se um aprofundamento dos conhecimentos em fotografia.
“Fiz um curso de iniciação de fotografia, um curso de laboratório, um curso de macro fotografia, depois participei no primeiro concurso da associação da APAF, ganhei o segundo prémio, com uma fotografia sobre o tema Lisboa”, diz com orgulho.
Aliado a um gosto crescente pelo mundo da fotografia as viagens são a inspiração ideal para Alexandre Costa que actualmente não sabe se caminha para fotografar, se fotografa para caminhar.
Infância dura que o tempo não apagou
Metalúrgico de formação exerceu a profissão de fresador mecânico durante muitos anos em diferentes empresas e como tem por hábito dizer, foi mercenário do ferro, e foi neste ramo de actividade que fez o seu percurso profissional.
Actualmente é empresário e assume uma alergia a rotinas e a trabalhar entre quatro paredes: “Gosto sempre de constantes desafios, faço mergulho, faço umas maluqueiras de vez em quando, porque gosto sempre de ter algo no horizonte para atingir”.
“Tento tirar partido da vida porque comecei a trabalhar aos 10 anos, comi o pão que o diabo amassou, mas há uma fatia que reivindico para mim e com pleno direito, não tenho dúvidas nenhumas, e tenho a sorte de poder fazer a vingança, no melhor sentido do termo, daquilo que foi a minha parte dolorosa da vida e que infelizmente nem todos têm a possibilidade de poder fazer essa vingançazinha”, destaca com alguma mágoa.
Nas viagens que tem realizado, o fotógrafo tem captado paisagens e rostos que são o reflexo da conduta do ser humano em diferentes partes do mundo e são testemunha daquilo que considera ser a realidade cruel existente.
Ao longo dos últimos anos testemunhou situações que o abalaram, que alimentaram o seu descrédito no ser humano e que o levam a concluir que este mundo é injusto: “Vivi situações muito dramáticas mas continuo a viajar dentro dessa perspectiva, porque acima de tudo o meu desejo é conhecer o mundo como ele é, embora não tenha a pretensão de poder fazer alguma coisa.”
A aventura com os Médicos do Mundo deu origem a uma exposição
Com uma forte ligação a Alcochete, desde a sua infância por razões familiares, Alexandre Costa organizou em parceria com a Câmara Municipal uma exposição fotográfica integrada nas comemorações do Dia Internacional da Mulher e outra que teve por título “3 Povos. 3 Países. 3 Continentes”, em que a receita da venda das fotografias reverteu a favor dos Médicos do Mundo.
A ligação que a partir daí estabeleceu com os Médicos do Mundo levou Alexandre Costa até Timor, mais precisamente à zona de Los Palos, onde os Médicos do Mundo desenvolvem trabalho no âmbito da educação alimentar e vacinação. Durante cerca de 3 semanas o fotógrafo registou diferentes aspectos, não só do trabalho que estes médicos desenvolvem, mas também de toda a envolvente cultural do país, e que resultou numa selecção de 250 fotografias doadas aos Médicos do Mundo.
Todavia, além de colaborar como júri nos raids fotográficos promovidos pela Autarquia, Alexandre Costa já tinha colaborado com a Câmara no registo fotográfico da embarcação tradicional Alcatejo.
Há bem pouco tempo regressou de uma longa viagem pelo Oriente, com destino a Pequim e com passagem pelo Tibete, Nepal e Mustang, um pequeno reino entre os Himalaias.
“O que mais me atrai nas viagens que faço é a descoberta, é ter um conhecimento vivido que me permita conhecer melhor que mundo é este em que vivemos. Tenho consciência que algumas imagens conseguem transmitir essa mensagem, e se eu conseguir com meia dúzia de fotografias transmitir essa mensagem a alguém, fico muito feliz”, diz Alexandre Costa.
O seu mais recente projecto vai ser apresentado na próxima sexta-feira, no Casino de Lisboa. Resultado de uma viagem que fez à Líbia a exposição fotográfica “Líbia, as civilizações que o Saara guarda“ pretende mostrar ao público 32 fotografias que retratam um país rico em cultura, tradições e história.
Simultaneamente o autor apresentará um livro subordinado à mesma temática.
A exposição “Líbia, as civilizações que o Saara guarda“ será inaugurada a 23 de Outubro, às 19h00, na Galeria de Arte do Casino de Lisboa.