Conclusões
Conclusões do 1.º Encontro sobre espécies exóticas aquáticas no Tejo
A introdução de espécies não-indígenas, ou exóticas, é considerada uma das principais causas de perda de biodiversidade, contrariando o equívoco generalizado de que a um maior número de espécies na natureza corresponde uma maior diversidade biológica. É ainda responsável por outras consequências a nível ambiental, socioeconómico e de saúde pública. Estes impactos podem representar elevadas perdas em termos dos serviços dos ecossistemas (por exemplo a colmatação de sistemas de refrigeração pela amêijoa-asiática), mas podem também motivar um aproveitamento económico significativo para as populações locais (por exemplo a amêijoa-japonesa).
A bacia hidrográfica do Rio Tejo, pela sua dimensão, pelo elevado nível de ocupação humana e pelo carácter internacional, é o sistema aquático português onde se regista o maior número de espécies exóticas. Este cenário motivou a realização deste primeiro encontro temático em Alcochete, onde se localiza a Reserva Natural do Estuário do Tejo e onde se sobrepõem interesses do ponto de vista da conservação da natureza e da sustentabilidade socioeconómica de populações que dependem da exploração dos recursos vivos aquáticos.
O 1.º Encontro Sobre Espécies Exóticas Aquáticas no Tejo realizou-se no dia 22 de março e foi organizado pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Câmara Municipal de Alcochete. A realização do encontro foi complementada pela exposição “Invasão Exótica: O Tejo sob Ameaça”, que teve lugar de 15 de Março a 15 de Abril e pretendeu mostrar a biodiversidade da bacia do rio Tejo e seus afluentes, dando destaque às espécies exóticas presentes, procurando responder a questões essenciais como: Quem são? Onde estão? De onde vieram? Como chegaram até cá? Que impactos podem ter? Como podem ser prevenidos e minimizados esses impactos? Quais as espécies exóticas mais emblemáticas e as suas principais características (bilhetes de identidade).
O 1.º Encontro Sobre Espécies Exóticas Aquáticas no Tejo procurou divulgar e discutir o conhecimento mais atual sobre este tema, numa abordagem abrangente do ponto de vista territorial, dos ecossistemas e dos grupos de espécies analisados. Passamos a enumerar as principais conclusões do encontro:
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Nos ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Tejo (meio dulciaquícola, estuarino e costeiro) estão identificadas 57 espécies exóticas aquáticas, sendo 26 dulciaquícolas e 31 estuarinas-marinhas.
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Os grupos com um maior número de espécies exóticas aquáticas no Tejo são as “Plantas e Algas” e “Peixes” com 16 espécies cada.
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Os principais vetores de introdução de espécies no Tejo são o transporte em “Águas de Lastro e Incrustação” e a “Pesca Desportiva”.
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Atualmente, a taxa de deteção de espécies exóticas aquáticas no rio Tejo é de cerca de duas novas espécies por ano.
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Tirando algumas exceções, sabe-se muito pouco dos impactos das exóticas nos ecossistemas aquáticos do Tejo. É prioritário avaliar os impactos na biodiversidade e serviços dos ecossistemas bem como o impacto socio-económico (negativo ou positivo) destas espécies.
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A monitorização da ocorrência de espécies exóticas aquáticas é essencial para agir atempadamente, atuando em prol da conservação da biodiversidade e da manutenção dos serviços dos ecossistemas aquáticos.
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É necessário criar competências sobre as espécies exóticas, incluindo ao nível das entidades decisoras, nacionais e regionais, que incluam conhecimentos sobre identificação, regulamentação em vigor e possíveis medidas de prevenção para cada espécie.
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Será necessário implementar novas formas de deteção de espécies exóticas, e principalmente de avaliação da expansão territorial das exóticas invasoras, que incluam também informação fornecida pelos cidadãos (ex. ciência cidadã) ou por grupos de interesse (pescadores, associações ambientalistas e agentes económicos), envolvendo os principais usuários dos ecossistemas aquáticos. Estes métodos contribuem com informação mais atual e, permitem também, a educação da sociedade civil, aumentando a perceção desta problemática.
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Existem algumas espécies exóticas invasoras que podem fornecer benefícios socio-económicos quando geridas para o efeito. Entre estas temos a Ameijôa-japonesa, a Lucioperca e o Lagostim-vermelho-da-Luisiana. Para tal, é necessário encontrar uma gestão que compatibilize a sua exploração sustentável e simultaneamente reduza os impactos na biodiversidade, nos ecossistemas e nos seus serviços.
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É fundamental harmonizar a atividade socio-económica ligada a espécies exóticas invasoras com a segurança alimentar e com a gestão sustentada destes novos recursos.
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A regulamentação sobre espécies exóticas deverá considerar diferentes formas de atuação, de acordo com o caráter invasor das espécies e o tipo de utilização que as mesmas têm.
Este evento contribuiu para o progresso na gestão e futura priorização das espécies exóticas invasoras a controlar nos ecossistemas aquáticos do Tejo. Espera-se que tenha contribuído para uma sensibilização mais alargada sobre os problemas inerentes à introdução de espécies exóticas e às medidas que podem ser postas em prática para prevenir e minimizar esses problemas. Espera-se que esta iniciativa possa ter a continuidade necessária para acompanhar a evolução desta problemática e procurar soluções integradas para a sua gestão.