Exposição marca início das comemorações sobre Fernando Pessoa
O início das comemorações do 130.º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa decorreu ontem, dia 13 de junho, com a realização de uma cerimónia de apresentação do programa e a inauguração da exposição “Nós, os de Orpheu” na Biblioteca de Alcochete.
Estiveram presentes no evento o executivo municipal, o presidente da assembleia municipal, o vice-presidente da CCDR-LVT, os presidentes das juntas de freguesia, a diretora do Agrupamento de Escolas de Alcochete, deputados municipais, membros das comissões políticas dos partidos locais, representantes do movimento associativo e outros convidados.
A sessão teve início com a atuação da Andante Associação Artística, protagonizada por Cristina Paiva, que recitou um dos mais conhecidos poemas de Fernando Pessoa, “A tabacaria” e que recordou a apresentação da obra do poeta junto dos reclusos da prisão do Montijo e nas sessões de poesia para bebés.
“A poesia tem um poder catalisador e galvanizador. Os políticos que o digam. Amiúde vemos e ouvimos políticos citar excertos de poemas. Os mais afoitos atiram-se a poemas completos e integram-nos nos seus discursos. Mesmo não sendo leitores de poesia, e muitos deles são, sabem do poder das palavras, dos sentidos ocultos”, disse Cristina Paiva. Sobre a revista Orpheu, a artista considerou que “aquilo que ficou registado em apenas dois números de uma revista literária há 103 anos continua a revelar-se inspirador, inovador e instigador de uma certa forma de escrever e de estar no mundo” e que “Fernando Pessoa, o poeta genial, que faria hoje 130 anos, foi um dos grandes responsáveis por este acontecimento cultural”.
O vereador da Cultura, Vasco Pinto, salientou que a câmara municipal “assinala esta figura ímpar da história universal com um programa diversificado e abrangente entre o período de 30 de junho (data do nascimento) e 30 de novembro (data da sua morte” e que as razões para comemorar Fernando Pessoa são “exaltar um dos expoentes máximos da cultura portuguesa e da literatura universal e assinalar a sua genialidade, a sua loucura, a sua inteligência, as suas mais variadas figuras e personagens, mas acima de tudo, é assinalar a nossa portugalidade”.
O autarca frisou que com estas comemorações se pretende “perpetuar o homem e o escritor na sua história local e que toda a comunidade sinta e viva este momento como seu e que retome a um escritor que conhece e, que para os menos familiarizados com a sua obra, se sintam tentados a descobri-la e a descobrir o homem”. “Música, exposições, teatro, cinema, serviço educativo, atividades para famílias e informação são as áreas onde iremos atuar e nas quais queremos enaltecer a genialidade de Fernando Pessoa”, disse.
O presidente da Câmara, Fernando Pinto, destacou a inauguração da exposição na Biblioteca como uma homenagem a “um dos mais importantes poetas e escritores da língua portuguesa, expoente máximo do modernismo no século XX em Portugal” e citou o poeta: “Se depois de eu morrer quiserem escrever a minha biografia não há nada mais simples. Tenho só duas datas, a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra, todos os dias são meus”.
O autarca sublinhou que “todos os dias da vida do poeta foram efetivamente de Fernando Pessoa e da sua pluralidade expressa nos diversos heterónimos que criou, dotando-os de biografia, características físicas, personalidade, visões políticas, atitudes religiosas e atividades próprias” e referiu-se ainda a “Bernardo Soares, temperamental, próximo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, ingénuo e simplista, Ricardo Reis, monarquista e bucólico, e Álvaro de Campos, revoltado e inconformista”. “É exatamente este inconformismo que leva Fernando Pessoa a juntar-se a Mário de Sá-Carneiro, Raúl Leal, Luís de Monte Alvor, Almada Negreiros e Rómulo de Carvalho e liderando o grupo fundaram a revista Orpheu que viria a ser porta-voz dos ideais de renovação futurista tão desejados pelo grupo “Os de Orpheu”.
Fernando Pinto acrescentou que “os textos e poemas de Fernando Pessoa e das suas múltiplas personalidades são sobretudo o relato de uma grande viagem de descoberta e, segundo o próprio, todos os caminhos são verdadeiros, sendo que o que é realmente preciso é navegar pelo mundo das ideias”.