Câmara aposta na criação da Confraria do Sal em 2012
O projecto de criação de uma Confraria do Sal e as Memórias do Trabalho dos Salineiros de Alcochete foram os dois temas da apresentação que o Museu Municipal de Alcochete realizou no Núcleo de Arte Sacra, em Alcochete, no dia 14 de Maio, no âmbito das comemorações da “Noite dos Museus”.
O Presidente da Câmara Municipal de Alcochete, Luís Miguel Franco, salientou que “a questão das memórias é fundamental” e que “todas as intervenções da Câmara Municipal de Alcochete têm uma preocupação acrescida de preservação da memória, não só das gentes mas também dos lugares”, dando como exemplo a recuperação do Poço de São João, assim como a preocupação de preservar a memória colectiva “nas intervenções que vão ser realizadas no âmbito da requalificação da Frente Ribeirinha de Alcochete”.
O autarca reafirmou a riqueza identitária de Alcochete, um concelho que contabilizou nos Censos deste ano somente 17.538 habitantes, apelou à união de todos face aos desafios e às dificuldades que se colocam aos municípios na actualidade e manifestou o seu entusiasmo face ao projecto de criação de uma Confraria do Sal em Alcochete, projecto que foi explicado com mais detalhe pelo Vereador da Educação, Paulo Alves Machado, que actualmente também é responsável pelo pelouro da Cultura, Identidade Local e Turismo, devido à ausência da Vereadora Susana Custódio.
Paulo Alves Machado salientou que o papel fundamental dos museus “é este trabalho de divulgação, de conservação das memórias, do seu tratamento, do seu estudo para que outros possam usufruí-las” numa referência à intervenção do Dr. Marto Alves, do Museu Municipal de Alcochete, sobre “As Memórias do Trabalho: O Salineiro”, apresentada na primeira parte da sessão.
O autarca anunciou ainda que o Museu Municipal de Alcochete está a preparar todo o processo relativo à criação da Confraria do Sal em Alcochete, no sentido da sua apresentação pública em 2012, uma ideia sugerida por uma professora do 1.º Ciclo do Ensino Básico para preservar a memória do sal em Alcochete.
“Até lá, há muito trabalho a fazer, de estudo, de ouvir outras pessoas, de pensar todo o ritual da Confraria”, referiu Paulo Alves Machado, que deu exemplos dos objectivos e dos aspectos que caracterizam várias confrarias já existentes em Portugal, assim como dos projectos que a futura confraria poderá apoiar, designadamente o projecto que a Fundação das Salinas do Samouco e a Fundação João Gonçalves Júnior pretendem desenvolver, a curto/médio prazo, de “reactivação de uma salina tradicional” em Alcochete.
Face ao perigo de extinção da salicultura, Paulo Alves Machado destacou que o projecto de uma confraria decorre da necessidade “de pensar em novas formas de divulgar e promover o sal” num concelho em que as salinas têm uma grande importância para a biodiversidade. “Uma das questões fantásticas do espaço em Alcochete é que estamos situados numa das mais importantes reservas de avifauna, que só se mantém pelas características especiais do sal de Alcochete e pelo facto de existirem salinas”, referiu o autarca, que deu ainda conta dos variados usos e potencialidades económicas do sal e da necessidade da sua promoção.
Na intervenção “As Memórias do Trabalho: o Salineiro”, Marto Alves destacou que “Alcochete estava dividida em três áreas distintas de marinhas: Alcochete/Samouco, a zona do Rio das Enguias e Vaza-Sacos, estas já no concelho de Benavente”, locais com acessibilidades diferenciadas que influenciaram os modos de trabalho dos salineiros.
“Em Alcochete/Samouco e Rio das Enguias há uma característica importante que tem a ver com a proximidade aos núcleos populacionais. A actividade fazia-se com o auxílio de todos os homens e de algumas mulheres que residiam neste espaço e a afluência era facilitada porque podiam, com uma hora de caminho a pé, chegar a estes locais”, frisou o Técnico do Museu Municipal de Alcochete, por contraponto à “acessibilidade a Vaza-Sacos, que era difícil, cerca de 18 km a pé, duas e meia a três horas de caminho a pé. Os salineiros iam à segunda-feira de manhã e regressavam a casa no sábado, depois de almoço”, explicou.
A caracterização socio-económica dos salineiros, as técnicas e os instrumentos utilizados nas salinas, as funções dos vários intervenientes na marinha de sal, o vestuário, o método de contagem do sal e a linguagem foram aspectos explicados com detalhe durante esta sessão realizada no Núcleo de Arte Sacra.
A pesquisa realizada junto de vários salineiros no concelho de Alcochete, cujos resultados foram apresentados nesta intervenção sobre “As Memórias do Trabalho: O Salineiro”, permitiu chegar a várias conclusões, nomeadamente que “havia diferenças entre as salinas de Alcochete/Samouco e Rio das Enguias, por um lado, e Vaza-Sacos, por outro, em que os horários de trabalho e a organização do tempo eram diferentes” e que “havia especialização profissional”, para além de permitir a preservação dos conhecimentos relativos aos instrumentos, à indumentária, à linguagem associada à profissão e à força física e dureza que caracterizavam esta actividade.
As comemorações do Dia Internacional dos Museus são assinaladas em Alcochete também esta quarta-feira, 18 de Maio, através da entrada gratuita e da oferta de materiais promocionais nos Núcleos Sede (Rua Dr. Ciprião de Figueiredo) e de Arte Sacra (Igreja da Misericórdia) do Museu Municipal de Alcochete, que vão estar abertos ao público das 10h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h30.